segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dicotomia.

Era uma caixinha verde, grande laço.
Laço maior que o presente.

Mas não era maior do que o medo de entregar.
Pq na caixinha não iam só os pequeninos presentes,
coisas de lembretes entre os dois,
pra que mesmo entre as distâncias que os separam estejam perto.

[Hoje, do lado direito de cima do telhado,
ela espera, com as mãos apertadas,
que a caixinha ainda esteja por lá,
nem que seja em canto escondido do armário.]



...


Hoje ela saiu de rosa por debaixo da roupa negra,
e tinha dentro da bolsa uma boneca de pano.

Entrou na loja de balas e resolveu gastar moedas :
uma, duas, três.

Pra coroar o dia, escolheu levar o rosa até a padaria,
mas aquela mais longe,
só pra passear :

- queria era aquele picolé, como o que o pai comprava em dias tristes,
o de chocolate.

Esqueceu que era dia de gnocchi, de tostão em baixo do prato,
e falou pra si mesma :
- dois tricô, dois meia.



...


Pq amor, ah,
não é grande nem pequeno,
é inteiro.

domingo, 28 de setembro de 2008

entrelinhas.

"Perdão é quando o Natal acontece em Maio, por exemplo."



( Adriana Falcão, em "Mania de Explicação")

sábado, 27 de setembro de 2008

Re-ment.

Sou entre o dormir muito tarde ou o acordar muito cedo, não sei, nunca sei.
Não sou rotina, decidido.

Tem dias que acordo e visto cor-de-rosa. Escuto samba, abandono o cereal na caixinha e penso que seria bom ter um pé de manga e colher pra café-da-manhã. Como não tem, espero pelo almoço.

E noutros, visto listras e xadrezes, descombinado. E penso em meia colorida. Não sei pq penso tantas cores, se disseram de mim é que sou como melancolia, em preto.

Sentei na cama e murmurei qualquer frase de amor das nossas com os olhos fechados, era tanto sol. Uma frase era a frase e continua em fase.

Ouço Jobim, releio Bethânia, sorrio Vinícius. Pausa de colcheia, assim, entre-ponto de respiração.

"Ponta de areia, ponto final."

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Cartinha.

Pequenino,

deixaste aqui em casa tubo de pomada, cartinha do teu aniversário (e mais essa que escrevo agora, com letra tortinha e gotas de tinta) e também o presente. E se faz bom tempo já do teu 'niversário.

As florzinhas murcharam, mas não morreram. Sinto frio hoje e uso meias azuis.
Escuto as mesmas canções mas não releio os mesmo livros.
Passeio pelos dias a suspirar e fazer desenhinhos bobos, a tentar pôr cor em mim.

Sonho como quem acorda com cheiro, palavra, maneira.
Era tudo de tudo o que eu poderia te falar.

E não sei te dizer adeus pq vc não me ensinou e eu mesma não te disse nunca.Vc tb não diria, sei. Teremos o sempre de nosso pertencer.

Mas, e agora que não sei?
Queria ficar, reler, envelhecer com a mão entre as tuas mãos quentes.
Quero de volta o calor das minhas bochechas ao te sentir com a mão entre o meu cabelo...

Se me perdi, foi pq resolvi abrir espaço entre nós que não havia.

E fico aqui a sussurrar pra mim toda a forma de te dizer " volta".
Ensaio.
Ensaio.
Ensaio.



Que a cartinha, esta, então seja um concerto.
Conserto.



Te amo, bobo.

Dúvida.

Volto pra mim, andei em círculos.
Em círculos cinzas.

Tenho nuvens miúdas nas mãos,
novelo desfeito.
Lágrimas não mais :
todo rio tem seca em período.

Tenho em mim a alegria morna, mui morninha : dias em tardes.

Tenho em mim saudade :
manhãs do sítio,
sorriso da irmã pequena a nadar, carrilhão da sala,
limonada de limão rosa perfumada, ah, minha avó.

Sou tudo isso de que sinto falta,
sou todo um mundinho que não se descobriu.



é grande o espaço que sobra em saudade do abraço grande.

sou grande,
sou pequena
e também não sei o que sou.

não, sei : sou dúvida.








p.s.: descumpri promessa do post passado : ouço "Cuts You Up", do Peter Murphy. Juro...fecho os olhos e posso ouvir a voz dele...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Tired?


"I'm sick of following my dreams.

I'm just going to ask them where they're going and hook up with they later."


Mitch Hedberg