domingo, 4 de maio de 2008

Sb doer, doar e dor.

Hoje nem eu mesma sei praonde vou.
olho, mas não vejo nada.
sinto-me incapaz de decidir, qualquer decisão qualquer.


Vi-me hoje assim:
doendo, de peito aberto e rasgado, dez anos sem meu pai.
Dez anos em que tropecei pela vida, errando muito mais que acertando.
Queria eu ter todas as palavras de perdão a escorrer pelos lábios,
queria eu em minha tolice infantil a imperar por todo meu pequeno reino de todos os meus pedidos de perdão fossem aceitos.

{ "tudo é culpa da doença!" sim, é, tente: bipolaridade.org. muitos, como eu, perderam-se em si. outros, cortaram as orelhas. a grande maioria matou-se.}


Eu, eu sou simples.
Sou meu cobertor felpudo, alguns cds, alguns livros velhos, minha chachimzim e o teddy.
Sou uma coletânea suturada de memórias, em maioria ruins.

Eu queria só olhar nos olhos de todos esses que hoje tanto me doem e ...
queria, como criança, abraço apertado onde não se cabe palavra alguma.
Queria só amor,
franco, puro, terno.
Amor.
Quente e rico
(como creme de chocolate amargo...veloutè, em mousse.)

E seria uma lista grande a minha lista de abraços e adeuses.
Terei coragem e a postarei aqui.
Terei mais: que me sobre coragem pra que de cada um nasça um post, pra que se fale desse amor escondido, ou morto , ou esmigalhado.

Relembrar é não perder.

Mas o relembrar há de ficar somente aqui, pois preciso, aindañseicomo, viver esse Agora, parar de ser consumida por um futuro nunca presente e um passado entorpecente.

Quero ser essa a crescer, a contemplar-se em olhos d'outro e sorrir.

Quero ser mais simples, mais pura, mais terna, mais eu, mais nós.


...


De tudo que Ele me deixou restam umas vagas imagens de memória. Lembro de como ele segurava o bigode, entre o indicador e polegar da mão direita, antes de pronunciar-se sobre assunto grave. Lembro do perfume, algo entre o brut e o strega. Do azeite no homus, do conversar na varanda, do dirigir pela madrugada. Foi um homem bruto profundamente terno, de mãos pesadas, cabelos da cor exata dos meus. Os olhos não: os dele eram mais profundos e carregavam muito mais dor do que poderei eu carregar, e tinham outra nuance - eram azul-da-prússia, sabe? Da caneta, sempre a mesma, de mesmo azul, em ponta de porcelana. De ser cozinheiro do rei da França, o lobo a nos acordar de manhã, a conversa dura sobre como educar-nos pelas manhãs. Lembro de minha avó, a chamar por ele antes de morrer. De como, hoje, sem querer, minha letra parece com a dele. De como perpetuo, por toda parte do que sou, hábitos e manias: bergamotas, melancia, caixas de uva passa das vermelhinhas, picles de pequenos pepinos pra serem comidos diretamente do vidro, knödel e schintzel, ah, schatzim.

Era um mundo como o do " a vida é bela". Eu não havia me apercebido de como as pessoas poderiam ser ruins. De como a vida poderia ser amarga e somente amarga. éramos nós, em uniformes listrados, em campo de batalha, mas com alguém a segurar a mão. um Alguém.


E sou tão ele que por esses dias, não me olho no espelho.




...

Doar-se, quero ser leve, sem apego, só com amores a acalorar-me por completo.


Um comentário:

J. disse...

catin, não posso tentar imaginar o que é não ter o meu pai, porque eu me pareço tanto com ele, assim como você se parece com o seu! parece até que tudo que eu gosto de fazer sempre tem o dedinho dele lá, o cabelinho branco dele... pondo as desavenças de lado (que são muitas, sim, são...), posso dizer que ele é quem mais se parece comigo, no mundo. você é o seu pai, no mundo, então isso significa que apesar de ter partido ele não se perdeu. eu sei que pode ser bobo falar, mas ele vive em você, uai! e vive bem, por sinal. texto lindo o seu, lindo e sincero. gosto de ver que você não tem medo de escrever as coisas, ou que pelo menos tem mais coragem que os outros (porque medo a gente sempre guarda um pouquin). e se eu terminar isso aqui com um "amovocê", eu ganho um abraçozin virtual? :3 *ouvindo ceremony*